Já tomei a minha hóstia e mais um côco que Deus fez o favor de colocar no meu quintal.
Estou, como vêem, na paz, embora não tenha merecido indulgências do Papa que, a seguir nesse caminho, passará quem sabe também a vendê-las, assim como lugares no céu, como aconteceu em épocas em que a Igreja era ainda mais santa.
Também estou assim porque recebo apoio dos meus queridos amigos e leitores, a me dizerem que não estou sozinha nem enlouqueci.
Vejo no noticiário que os inocentes do Leblon estão irritados; que a polícia não sabe o que fazer e que o Governador também não. Menos ainda a FIFA, que não quer se sujar (ainda mais) mas quer dar um ar mais civilizado ao estádio onde foi investido tanto dinheiro. Para tanto quer que todos usem camisa nos estádios, apesar de terem que pagar 60 reais de ingresso.
Viver sem camisa é uma prática que só se observa no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro onde, a par dos belos torsos que desfilam ante nossos olhos encantados, também temos que olhar barrigas nojentas que seus proprietários exibem como troféus de mau gosto.
Por mim, não vou a estádios nem me entusiasma o futebol, mas reconheço que é uma paixão, e contra a paixão não há argumentos.
O que vejo mesmo é a cartolagem, que transforma tudo em dinheiro, tentar acabar com o futebol, assim como acabou com as escolas de samba. Tanto o esporte como o samba contam com talentos que nascem em famílias e locais onde, normalmente, não se usa camisa. No caso das mulheres, roupas curtas e apertadas. Alguém pode pensar que é exibicionismo, mas o fato é que muitas famílias com muitas filhas pegam um pedaço de tecido que daria para uma saia e fazem três.
Melhor seria que todos fossem para casa: o Papa, a Copa, a Polícia, o Gilmar Mendes, e os governos começassem, enfim, a construir casas decentes, fazer esgotos, plantar árvores, tapar buracos, diminuir impostos - afinal, não é pouca a grana com os impostos. E não é pecado querer possuir a própria camisa, nem que seja para tirar a cada gol.
Poema
João Cabral de Melo Neto
As palavras tornaram-se inúteis
nesta manhã que desceu
muito mais leve muito mais clara.
Os homens trocam sorrisos
subitamente esquecidos
de que os relógios vão dar meia-noite.
Mas nos países sem palavras
os generais incendeiam pianos
dos pianos heróicos nascem florestas
e outros lamentos são gritados
para as janelas acesas
que guardam antigos remorsos.
...
Poema
João Cabral de Melo Neto
As palavras tornaram-se inúteis
nesta manhã que desceu
muito mais leve muito mais clara.
Os homens trocam sorrisos
subitamente esquecidos
de que os relógios vão dar meia-noite.
Mas nos países sem palavras
os generais incendeiam pianos
dos pianos heróicos nascem florestas
e outros lamentos são gritados
para as janelas acesas
que guardam antigos remorsos.
...
Sabia que João Havelange tentou impingir para o outro João, na época do regime militar uma das Copas do Mundo (se não me engano a que foi realizada na Alemanha) e este lhe mandou dar uma passada nas favelas para conhecer a realidade brasileira?
ResponderExcluirJá fiz meu comentário.
ResponderExcluirSempre muito inteligentes e sensíveis seus comentários.
ResponderExcluirSaudades.
Elida
Fiquei alucinada com tudo que escreveu... voce esta certíssima isso tudo não passa de uma sujeira para benificiar a podridaõ que comanda nosso país e tapear ainda a juventude que anda perdida no meio dessa bagunça desordenada.
ResponderExcluirMeus parabéns guerreira da escrita e da inteligencia...ganhou uma fã!
Um abraço!