Daniel Santos |
Saiu pela porta da cozinha de bermuda e
chinelão, sem dizer aonde ia. Bateu o portão com o mau-humor de sempre, ainda
mais que a salsicha do almoço lhe dava azias, e imiscuiu-se na turba a caminho
do estádio.
Sem perceber, muniu-se de uma ripa encontrada junto ao meio-fio e golpeava com estardalhaço a grade de ferro das casas e a porta de aço das lojas, enquanto emitia grunhidos, talvez, de um arcaico idioma da fúria. A musculatura das costas tensionou-se até vergá-lo um pouco para a frente, os punhos enrijeceram-se como os de um pugilista na véspera da revanche e ele prosseguiu sempre pisando de calcanhar como um militar. Pouco antes de entrar no estádio, urinou junto a um poste como um vira-latas, sem se intimidar com a multidão à volta, e quase atirou fora a ripa. Mas, não. Resolveu guardá-la consigo. Vai que seu time perdesse... |
18 de dezembro de 2013
CORJA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Caramba, Helena! Genial!!!
ResponderExcluirConcordo com a Maria do comentário acima: vc vai virar jornalista do quotidiano dos domingos a caminho dos estádios de Futebol? tem treinado nas ruas ou a imagem veio das televisões? Belo texto e perigoso para o caso de morar num bairro de claques!! Acho que isso nos interessa para sabermos rezar por si (rs)
ResponderExcluirUm abraço do
jemidio
Texto ótimo ! para um contexto doente, em que na manipulação dos fantoches a corda sempre arrebenta, e o bolso dos manipuladores também (de tão cheios).
ResponderExcluir