2 de outubro de 2013

MORTE AOS POBRES - UMA POLÍTICA PÚBLICA

De repente, não deu mais pra seguir mentindo. Amarildo foi morto pela polícia, e isso todo o mundo já sabia desde o início. Quem viu a casa de Amarildo, quem soube que ele tinha seis filhos e viu a mulher com quem estava casado não pode acreditar que Amarildo estivesse ligado ao tráfico. Amarildo era o boi, de apelido. Era o pau-mandado, um biscateiro que talvez até fosse ruim das idéias, como disse um vizinho. Amarildo era um nada. E foi por isso que foi escolhido por 10 policiais (DEZ!) para morrer na noite de 14 de julho. Talvez não tenha sido torturado por 10, mas é certo que 10 acobertaram o crime. Crime?Apenas uma brincadeira, assim como playboys matam índios, homens matam mulheres, nazistas matam gays. Normal.
Por que é que homens treinados e formados acham que podem se divertir matando negros durante a noite, ninguém sabe. Um prazer sádico, para quem passa a noite sem ter o que fazer. Rodando pelas ruas da cidade, errando o caminho. Por que esses amarildos têm que morrer todos os dias? Haverá uma cota de "merecimento" para os policiais que matam à noite, quando ninguém tem coragem de botar a cara na rua? Talvez haja um prêmio, mas só quando o morto não for descoberto.
A nossa guerra não é declarada mas é antiga. Vem da escravidão, jamais superada. A nossa guerra não tem datas nem heróis.  As vítimas não morrem em massacres como os do Egito ou da Síria. Vão morrendo sistematicamente, nas ruas, nos presídios, nas celas das delegacias, nos carros da polícia. Morrem, apenas, suspeitas por serem pobres, culpadas de serem negras. Tudo acobertado pelo Estado de direito, que também é o da força policial. Não há comunistas? Não há subversivos? Guerra às drogas. Não pegamos os traficantes grandes? Peguemos os pequenos. Não há criminosos? Vamos forjar um. Outra coisa hão de arranjar para matar, seguir matando. Isso é o que chamam de Paz Armada.

Quem estuprou e matou a menina Rebeca, de 9 anos, na Rocinha? Quem serão Amarildo e Rebeca amanhã?
Não sabemos. E a polícia dirá, até ser descoberta, que também não sabe.

3 comentários:

  1. Pensei que estavas falando do Doi-Codi, Cenimar, Dops, Fleury , jamais de um país que quer se chamar "democrático".
    Fomos o último país a abolir a escravatura, os torturadores jamais serão punidos ao contrário de nossos vizinhos, blá-blá-blá.
    A Polícia brasileira é uma Gestapo miscigenada, a tortura no Brasil é cultural como o carnaval e o futebol, herança das relações entre a casa grande e a senzala.
    Os textos estão cada vez melhores.
    beijo

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  2. Acabo de ler Alberto Dines no livro O Papel de Jornal que vai na sua 9º edição. Nas primeiras paginas do livro é puvlicado o fac-símile do texto de Hipólito Costa que fundou o Correio Braziliense. Está lá logo no primeiro paragrafo aquilo que eu considero ser o grande mérito dos textos da Helena: "o Primweiro dever do Homem em sociedade he ser util aos membros della; e cada um deve, segundo as suas forças fhisicas, ou moraes, administrar, em beneficio da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte, ou a educação lhe prestou" .
    Um beijo para a Helena que continua a escrever com sabedoria e muita ironia que é uma das grandea disciplinas da cultura
    joaquim Emidio

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  3. Helena tem de sobra o que falta a muitos brasileiros: a sua capacidade de indignação nunca se esgota.

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